por João Camargo
O movimento internacional MayDay iniciou-se em Milão, no ano de 2001. Reune trabalhadores em condição precárias, fenómeno que se alastra devido à onda neoliberal que por todo o mundo se desencadeou sobre o Trabalho, A força da juventude desempregada e precária serviu de ignição para a disseminação deste tipo de organização. Esta une gente de todo tipo, idade e formação. Age através de assembleias públicas, onde é dada voz a todos os presentes — num processo decisório trabalhoso mas consensual. Actualmente o movimento MayDay está presente em Lisboa, Porto, Aachen, Berlim, Bremen, Copenhaga, Den Bosch, Genebra, Gent, Gornja Radgona, Hamburgo, Hanau, Helsínquia, Liége, Ljubljana, Madrid, Málaga, Maribor, Milão, Nápoles, Palermo, Terrassa, Tóquio, Tubingen, Viena e Zurique. Em Lisboa as manifestações do MayDay incluíram a invasão de um centro de emprego, o encerramento de empresas de trabalho temporário na área metropolitana e acções teatrais no centro da cidade. Além disso, este ano – pela terceira vez – o MayDay irá participar da manifestação da CGTP do 1º de Maio. No Porto, o ano de 2009 assinalará pela primeira vez a presença do MayDay nas manifestações do 1º de Maio. Em Coimbra e em Évora já houve acções relacionadas com a precariedade que se associaram ao nome Mayday. Entretanto, neste 1º de Maio não estão previstas manifestações organizadas. Dentre as "soluções" capitalistas para a crise, a precariedade tornou-se uma das mais importantes. Ela passou a ser uma arma do patronato contra os trabalhadores com contratos firmes. As ameaças são diárias. A torto e a direito a comunicação social faz bandeira da "flexibilidade" que, segundo ela, aumentaria a "competitividade". O jogo é histórico: atirar uns contra os outros na base, fazer despontar preconceitos e ideias forjadas, em favor de uma minoria que é cada vez mais parasítica e pretende re-estratificar solidamente as sociedades de todo o mundo. O CASO DOS CALL-CENTERS Os call-centers são muito representativos desta jovem precariedade, rejuvenescida, mascarada e imposta a toda uma geração. Nestes, o homem-ferramenta é a chave para a manutenção da riqueza nas mãos dos mesmos de sempre. Assim, há que precarizá-lo, no trabalho como na vida, retirar-lhe as alternativas e privá-lo da sua dignidade, sentimento inútil no mundo de capital. Nos dias de hoje, a especialização começa desde cedo. A triagem inicia-se na infância – são vedadas as oportunidades, marginalizadas comunidades, regiões e grupos de pessoas incómodas para o sistema. A padronização implica a escolha do futuro aos 15 anos, a privação de conhecimentos generalistas e de uma visão ampla da realidade. Num sistema universitário que cada vez mais se afasta das possibilidades financeiras reais da maioria da população, os cursos apostam na especialização e as grandes empresas já quase ditam os currículos obrigatórios para a conclusão dos ciclos de ensino universitário. Em todas as etapas deste percurso possível as pessoas vão saindo para a vida activa: aí, as opções vão cada vez mais ficando também padronizadas – contratos precários, contratos a curto prazo, recibos verdes. Com vínculos presos por fios e de valores continuamente decrescentes, as vidas dos trabalhadores são joguete nas mãos de empregadores – sendo o Estado um dos principais elementos a usufruir destas novas (renovadas) condições de trabalho, a par das grandes empresas nacionais e multinacionais. Os bancos arrecadam com os despojos – é-lhes permitido controlar as pessoas, cujos vencimentos não permitem a manutenção de uma vida independente e digna e que se vêm obrigadas a contrair empréstimos a estes usurários. A precariedade é a ferramenta básica para a manutenção deste ciclo vicioso, dividindo os trabalhadores em grupos de acordo com o seu estatuto contratual e procurando quebrar os laços de solidariedade que os unem. No negócio dos mass media que substituiu a imprensa, e onde a precariedade grassa, chamaram-lhe flexibilidade. Segundo fonte incontroversa (de acordo com os padrões vigentes nos tais media), a OCDE, 60% da população activa mundial labora em condições precárias. Considerando a fonte, será de esperar que a realidade esconda números obviamente superiores. Em Portugal, serão 2 milhões os trabalhadores precários. E o futuro de que nos informam diariamente promete muitos mais. A precariedade é o novo nome dado às condições que antes se chamaram de servidão, feudalismo e escravatura, e a marcha parece deslocar-se nesse mesmo sentido. Contra isto luta o MayDay. O desemprego é a derradeira justificação para a restauração dos sistemas de exploração contra os quais o mundo ocidental batalhou nos últimos 200 anos. Não obstante, a memória dos trabalhadores e trabalhadoras, velhos e novos, portugueses e imigrantes, não desapareceu. Pelo contrário, solidifica-se e cerram-se fileiras para retomar um caminho que já foi percorrido. O mundo encontra-se em retrocesso social. Anunciam-se graves convulsões pela defesa de um mundo de futuro, contra um regresso ao passado. O MayDay quer o Futuro, mas não um qualquer futuro. Por isso, o Precariado dá Luta!
domingo, 3 de maio de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário